Luz verde a Kiev para mísseis. Moscovo vê Biden a arriscar terceira guerra mundial
A deputada russa Maria Butina afirmou esta segunda-feira que o Governo norte-americano está a arriscar a terceira guerra mundial, ao permitir que a Ucrânia use armas fabricadas nos Estados Unidos para atacar profundamente a Rússia. A reação de Moscovo surge depois de Joe Biden ter autorizado Kiev a empregar mísseis de alcance superior a 300 quilómetros contra alvos russos.
“Tenho uma grande esperança de que Donald Trump supere essa decisão, porque eles estão a arriscar seriamente o início da terceira guerra mundial, o que não é do interesse de ninguém.”
A Reuters, que cita dois funcionários dos EUA e uma fonte familiarizada com a decisão, revelou no domingo que a Administração cessante de Biden tomou a decisão de permitir que a Ucrânia faça os ataques com armas dos EUA nas profundezas da Rússia. “Acho que há algumas pessoas nos Estados Unidos que não têm nada a perder, por qualquer razão, ou que estão completamente fora da grelha, de tal forma que simplesmente não se importam”, acrescentou Maria Butina, que passou 15 meses na prisão norte-americana por atuar como agente russa e é agora deputada do partido Rússia Unida, que está no poder.
Kremlin já alertara para consequências
O Ministério russo dos Negócios Estrangeiros declarou no domingo que o presidente Vladimir Putin já tinha avisado o Ocidente para as consequências de permitir que Kiev utilizasse armas de longo alcance em ataques sobre território russo.
“O presidente [Vladimir Putin] já fez uma declaração sobre o assunto”, afirmou a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Maria Zakharova, ao portal digital RBC, numa aparente referência a declarações emitidas pelo líder do Kremlin em setembro passado e reproduzidas nas últimas horas por vários meios de comunicação russos.
Na altura, Putin afirmou que, se o Ocidente concordasse em autorizar ataques ao território da Rússia com os seus mísseis de longo alcance, isso mudaria a “essência” e a “natureza” do conflito na Ucrânia.
“Isso significará que os países da NATO, os Estados Unidos da América e os Estados europeus estarão em guerra com a Rússia”, disse Putin a 13 de setembro.
Já no final de outubro Putin disse que o Ministério russo da Defesa estava a trabalhar em diferentes formas de responder se os Estados Unidos e os seus aliados da NATO ajudassem a Ucrânia a atacar profundamente a Rússia com mísseis ocidentais de longo alcance.
Biden acedeu a pedido de Zelensky
A imprensa norte-americana noticiou no domingo que o presidente Joe Biden autorizou a Ucrânia a utilizar armas de longo alcance dos Estados Unidos para ataques limitados dentro da Rússia, uma informação até agora sem anúncio oficial da Casa Branca ou do Pentágono.
O ainda presidente democrata terá acedido a um pedido de longa data de Kiev, pouco antes da sua saída da Casa Branca.
As armas cujo uso foi autorizado por Biden são, em particular, mísseis supersónicos teleguiados chamados ATACMS, que podem transportar ogivas convencionais ou de fragmentação e têm um alcance de cerca de 190 milhas ou 300 quilómetros, precisou o diário norte-americano The Washington Post .
A confirmar-se, a decisão de Biden pode representar um grande impulso para a Ucrânia, pouco antes de o seu Governo dar lugar, a 20 de janeiro, ao de Donald Trump, o presidente eleito a 5 de novembro, que prometeu repetidas vezes acabar rapidamente com a guerra na Ucrânia, iniciada com a invasão pela Rússia do país vizinho a 24 de fevereiro de 2022.
Cautela de Zelensky
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, acolheu com cautela a notícia, observando que estas armas “falarão por si próprias”.
“O plano para reforçar a Ucrânia é o plano de vitória que apresentei aos parceiros. Um dos seus pontos cruciais são as capacidades de longo alcance do nosso exército”, reiterou. Recordando, no seu discurso da noite de domingo, a importância da “capacidade de longo alcance” do seu exército, sublinhou: “Hoje, muitos meios de comunicação social estão a noticiar que recebemos autorização para tomar medidas adequadas”.A notícia da decisão norte-americana surgiu no dia em que a Rússia lançou um dos maiores ataques à Ucrânia nos últimos meses.
“Mas os ataques não se fazem com palavras. Essas coisas não são anunciadas”, acrescentou Volodymyr Zelensky. “Os mísseis falarão por si”.
Estes mísseis, com um alcance máximo de várias centenas de quilómetros, permitiriam à Ucrânia atingir os locais de logística do exército russo e os aeródromos de onde descolam os seus bombardeiros.
Os mísseis ATACMS fornecidos pelos Estados Unidos deveriam ser inicialmente utilizados na região fronteiriça russa de Kursk, onde soldados norte-coreanos foram destacados para apoiar as tropas russas, segundo o New York Times, que citou funcionários norte-americanos que falaram sob condição de anonimato.
A decisão de Washington de autorizar a Ucrânia a utilizar estes mísseis foi uma reação a este envio de tropas norte-coreanas, segundo os responsáveis.
A resposta dos aliados
Vários países, incluindo os Estados Unidos, tinham anteriormente recusado dar luz verde ao uso de armamento de longo alcance por parte da Ucrânia, por receio de uma escalada com Moscovo. A decisão dos EUA poderá levar outros aliados a seguir o exemplo, nomeadamente o Reino Unido.
O chanceler alemão cujo país tem sido o segundo maior fornecedor de ajuda militar à Ucrânia desde o início da invasão russa em fevereiro de 2022, tem-se recusado sistematicamente a fornecer os mísseis Taurus de longo alcance exigidos por Kiev.
Olaf Scholz, que esteve em contacto com o presidente russo no final da passada semana, considera que a visão de Putin sobre a invasão da Ucrânia não mudou. Scholz adianta que fez questão de dizer ao presidente russo que o Kremlin não terá o “apoio nem da Alemanha, nem da Europa e de muitos outros países do mundo para a diminuição da Ucrânia, mas também lhe cabe agora a ele garantir que a guerra termina, retirando as tropas”.
A Polónia, vizinha da Ucrânia e um dos seus mais fortes apoiantes, saudou a decisão dos EUA.
"O presidente Biden respondeu à entrada na guerra das tropas norte-coreanas e ao ataque maciço de mísseis russos com uma linguagem que V. Putin compreende", afirmou Radoslaw Sikorski, chefe da diplomacia polaca, na rede social X.
Já para o presidente francês, Emmanuel Macron, o seu homólogo russo não quer a paz, nem está pronto para negociar. “Quaisquer que sejam as suas declarações, ele não quer a paz e não está disposto a negociá-la. Penso que o dever de todos é forçar a Rússia a cessar o combate e a negociar a paz”, afirmou Macron.China volta a apelar à pazNa wejście do wojny żołnierzy Korei Północnej i zmasowany nalot rosyjskich rakiet Prezydent Biden odpowiedział w języku, który W.Putin rozumie - zdjęciem ograniczeń na użycie przez Ukrainę zachodnich rakiet.
— Radosław Sikorski 🇵🇱🇪🇺 (@sikorskiradek) November 17, 2024
Ofiara agresji ma prawo się bronić.
Siła odstrasza, słabość prowokuje.
Pequim voltou, por sua vez, a apelar à paz na Ucrânia. “O mais urgente é encorajar ambos os lados a acalmarem-se o mais rapidamente possível”, afirmou esta segunda-feira o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Lin Jean, em conferência de imprensa regular.A China apresenta-se como um país neutro em relação à guerra na Ucrânia e insiste que não vende equipamento letal aos beligerantes, ao contrário dos Estados Unidos e de outras nações ocidentais que apoiam Kiev.
O porta-voz apelou a um “cessar-fogo rápido e a uma solução política”.
Pequim continua, no entanto, a ser um importante aliado económico e político de Moscovo e nunca condenou a ofensiva russa.
“A China sempre encorajou e apoiou todos os esforços para encontrar uma solução pacífica para a crise”, continuou Lin, acrescentando que Pequim está disposta a “continuar a desempenhar um papel construtivo (...) à sua maneira” para esse efeito.
Acabar com a guerra “num dia”
Na campanha para o regresso à Casa Branca, Donald Trump não poupou nas críticas às dezenas de milhares de milhões de dólares libertados por Washington para a Ucrânia.
O presidente eleito afirmou regularmente que poderia acabar com a guerra “num dia”, mesmo antes de tomar posse, a 20 de janeiro, sem nunca explicar como.A Ucrânia teme um enfraquecimento do apoio dos EUA numa altura em que as suas tropas estão a lutar na linha da frente, ou que possa ser imposto um acordo que envolva concessões territoriais à Rússia.
O presidente cessante, Joe Biden, está a tentar acelerar a entrega de ajuda militar a Kiev e continua a criar mecanismos para garantir que os aliados europeus assumam a responsabilidade.
Do orçamento aprovado pelo Congresso dos Estados Unidos na primavera, falta atribuir cerca de 9,2 mil milhões de dólares, dos quais 7,1 mil milhões serão retirados das reservas da NATO.
c/ agências
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